Lockdown aumenta o número de casos de violência doméstica na comunidade Brasileira morando na Austrália
As Nações Unidas definem violência doméstica como sendo o comportamento abusivo de um parceiro atual ou ex-parceiro que resulta em sofrimento ou dano físico, psicológico ou sexual, em público ou vida privada.
Na Austrália, esse tipo de crime afeta três vezes mais mulheres do que homens (uma vez que homens tem a tendência de reportar menos devido a vergonha e estigma associados com esse tipo de abuso), e em média uma mulher é morta por semana devido a crimes de violência doméstica.
Mundialmente, 30% das mulheres são sujeitas a algum tipo de abuso perpetuado por seus parceiros ou ex-parceiros; e aproximadamente 38% de todos os homicídios cometidos contra mulheres são cometidos por seus parceiros íntimos.
Essa estatística aumentou durante os lockdowns de 2020 e 2021, devido a pandemia do corona vírus. O lockdown impacta não só nos aspectos econômicos e sociais (portanto expondo mulheres a um risco maior de abuso domiciliar à medida que elas passam mais tempo em casa com os seus parceiros, podem se encontrar em situações de dependência financeira e não tem oportunidades de contato com redes de apoio social), mas também limita o acesso a serviços.
Mais da metade das mulheres que já se encontravam em situações de violência doméstica antes de fevereiro 2020 na Austrália reportaram que a violência que elas experienciam em casa aumentou em frequência e severidade desde o início da pandemia.
No Brasil, 50% de todos os homicídios de mulheres em 2013 foram cometidos por familiares. Destes, 33% foram cometidos por ex-parceiros ou parceiros atuais, representando em média 13 homicídios contra mulheres por dia por causa de violência doméstica.
A pandemia agravou significativamente a já problemática questão da violência no contexto brasileiro, haja vista que a porcentagem de violência contra mulheres acima de 16 anos nos últimos 12 meses atingiu aproximadamente 17 milhões de mulheres, ou seja, uma em quatro mulheres – sendo que 48.8% desses casos ocorreu dentro de casa.
Violência doméstica se apresenta de diversas formas e é caracterizada por abuso verbal, físico, psicológico, emocional, social, sexual, financeiro, entre outros. A violência geralmente se inicia de forma sutil e às vezes pode até ser percebida como um gesto de amor ou ajuda; mas com o passar do tempo vai gradualmente sendo intensificada ao ponto de a vítima poder perder a autoconfiança, sua liberdade, independência, individualidade e até mesmo a identidade própria.
Sentimentos de medo, insegurança, e ameaças de consequências sérias se a vítima vier a reportar ou deixar o relacionamento abusivo faz com que mulheres se sintam emprisionadas por seus parceiros, vivendo um ciclo de abuso e violência que vai causando danos psicológicos como trauma, depressão e ansiedade.
A seriedade do risco à saúde mental e física às vezes só é percebido quando a vítima consegue sair do ciclo abusivo. E quando há crianças envolvidas, as consequências para a vítima são ainda mais sérias (por exemplo, medo pela segurança das crianças ou a possibilidade de perder a guarda dos filhos por causa de manipulações e mentiras).
Muitas vezes, violência doméstica está associada às experiências de relacionamentos tóxicos e abusivos durante a infância, o que é conhecido com trauma intergeracional.
Terapia é um dos serviços recomendados para ajudar a vítima com estratégias de segurança, comunicação, e o desenvolvimento de habilidades de controle e autoconfiança; além de proporcionar oportunidade de encaminhamento para outros serviços que ajudarão a vítima a se recuperar e se proteger.
A educação psicológica é essencial para o entendimento de que a vítima não tem culpa sobre o abuso sofrido e para que possa se recuperar com resiliência e saúde mental.
• Na Austrália, o seguinte serviço oferece ajuda em situações de crise relacionados à violência doméstica e outros tipos de abuso. O use de intérpretes está disponível em mais de 28 línguas diferentes, incluindo o Português: 1800 RESPECT (1800 737 732) ou https://1800respect.org.au/accessibility
Carine Davey
Carine é psicóloga registrada e pesquisadora com publicações na Austrália e no Brasil. Com mais de 15 anos de experiência trabalhando com saúde mental nos setores público, comunitário (ONGs) e em clínica privada; ela usa empatia, ética e o desenvolvimento de uma relação terapeuta forte baseada em confiança e colaboração, sempre focando nas necessidades individuais de seus pacientes facilitando assim resiliência, crescimento psicológico e flourishing (florescimento humano).
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